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Polícia desmantela rede criminosa que explorava mulheres e as mantinha em cárcere privado em boates
Vítima grávida foi impedida de buscar atendimento médico após picada de aranha; investigações começaram após morte suspeita de jovem
Por Jornalismo
26 de Março de 2025 às 08:07
Uma jovem de 26 anos, resgatada de uma boate em Auriflama (SP) durante uma operação policial, está grávida de seis meses e foi impedida de receber atendimento médico após ser picada por uma aranha. O caso veio à tona por meio do depoimento de uma testemunha, que ajudou a vítima a escapar.
A Polícia Civil identificou pelo menos dez mulheres submetidas a um esquema de exploração sexual em boates localizadas em Auriflama, Catanduva (SP), Pereira Barreto (SP) e Aparecida do Taboado (MS). Os estabelecimentos pertencem ao mesmo proprietário.
Durante a operação realizada na última segunda-feira (24), quatro homens foram presos em Auriflama, sendo dois em flagrante por tráfico de drogas. Posteriormente, a polícia cumpriu mandados de prisão contra o dono das boates e um gerente. Um ex-gerente de Catanduva segue foragido.
Negligência e medo
Bruna de Carvalho, comerciante da cidade, relatou que a vítima pediu ajuda ao gerente da boate após ser picada no braço por uma aranha, mas teve o socorro negado. Três dias depois, com a região já inchada, a jovem conseguiu pedir auxílio a uma colega, que acionou Bruna para levá-la ao hospital.
"Ela disse que tinha uma dívida com o dono da boate. Liguei para ele, mas não atendeu. Quando chegamos à porta do local, o segurança insistiu em ir junto, mas eu recusei. O que estavam fazendo era cárcere privado e um ato desumano contra uma mulher grávida", afirmou Bruna.
No trajeto até a Santa Casa, o dono da boate ligou e questionou para onde a vítima havia sido levada, iniciando uma discussão com Bruna. Apesar disso, a jovem recebeu atendimento. Ainda segundo a testemunha, a mulher revelou que havia sido agredida por um segurança e queria ajuda para pagar sua dívida e deixar a boate.
A delegada Caroline Baltes foi acionada e recebeu mais denúncias de vítimas que relataram abusos, tortura e exploração sexual. Um cliente, ao tomar conhecimento da situação, decidiu quitar a dívida da jovem grávida, permitindo que ela deixasse o local. Apesar disso, a vítima ainda teme represálias e não prestou depoimento formal.
Investigação ampliada após morte suspeita
As investigações começaram após a morte de Regina Aparecida Marques Vieira, de 19 anos, encontrada sem vida em uma boate de Auriflama no dia 25 de fevereiro. Inicialmente tratada como suicídio, a causa da morte passou a ser investigada como homicídio ou indução ao suicídio. Dias antes, Regina teria sido espancada dentro do estabelecimento.
A polícia descobriu que as mulheres eram aliciadas com promessas falsas de trabalho e, ao chegarem às boates, ficavam presas nos locais, sem acesso a comida, água ou meios de comunicação.
As vítimas eram obrigadas a consumir drogas comercializadas pelos administradores e acabavam endividadas. Algumas relataram ter sido estupradas sob ameaça ou como forma de quitar as dívidas impostas pela quadrilha.
Entre as vítimas identificadas, a mais nova tem 14 anos e a mais velha, 25 anos. A delegada informou que os portões das boates eram trancados, e qualquer tentativa de fuga era punida com agressões. Algumas mulheres relataram que precisavam pular muros para conseguir comprar alimentos, mas eram perseguidas e violentadas ao retornarem.
Encerramento das atividades e apreensões
Durante a operação, a polícia apreendeu drogas, armas, celulares e registros contábeis da quadrilha. Todos os estabelecimentos foram lacrados por determinação judicial.
Os suspeitos são investigados por crimes como organização criminosa, favorecimento da prostituição, cárcere privado, estupro e homicídio.